Filosofia do possível

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segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

O MITO DO PECADO ORIGINAL - PARTE II


O MITO DO PECADO ORIGINAL

“O GÊNESIS DA CONVALESCÊNCIA DA HUMANIDADE”

PARTE II

 

            Para entendermos o que aconteceu com a humanidade, faz-se necessário analisar como vivíamos antes do castigo divino, o que era viver no Paraíso, no Éden, lugar tão sonhado e buscado pela maioria dos homens. Compreendendo esse estágio, poderemos avaliar o tamanho do estrago que fizeram com nossas mentes, já que defendo a tese que essa extradição é inculcada na maioria das pessoas desde o momento que nascemos. Somos forçados a viver num mundo imaginário, cheio de regras artificiais e contra nossa natureza. E, é isso que provoca todas as mazelas que verificamos no mundo. Mas será que existe uma outra forma de viver? Existe uma outra alternativa de vida? Será que é possível encontrar o Paraíso? Ele é concreto ou sutil? Já estivemos nele, ou são apenas delírios de mentes doentias?

            Segundo o próprio Mito, podemos encontrar o Paraiso divino, pois, essa é a nossa verdadeira natureza, foi assim que fomos criados, para vivermos no Éden paradisíaco. Sendo assim, faz-se necessário abordarmos esse momento pré-Queda.

 

 

ANTES DA QUEDA

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            Antes da maçã, éramos livres, independentes, sem limites e naturais. Vivíamos em harmonia com e pelo o todo. Não havia diferenças, preconceitos, definições, teses ou quaisquer tipos de verticalização. Tudo era límpido, simples, direto e horizontal. A verdade era palpável e concreta, pois esta era a única maneira de se viver.

            Tudo era um eterno presente, sem culpas ou expectativas, sem antes ou depois, sem tempo ou contratempos, sem projeções, invenções, fórmulas, padrões ou decepções.

            Predominava a igualdade e a unidade entre as partes, pois todos traziam em si a percepção de seu valor na constituição e composição do todo. Não havia divisões ou rateamentos; não existia a ideia de ego, do eu e dos outros; éramos um todo; uma unidade. Sem competições, sem retaliações, sem conflitos e sem desgastes. Nosso olhar era amplo, externo e aglutinador.

            Não havia necessidade de mentiras, vergonhas, desonras, engodos ou desculpas. Éramos transparentes, cristalinos e translúcidos. Não existia temor, medo, pânico angustia ou depressões. Não carregávamos o peso de outras gerações, nem heranças espoliadas. Éramos íntegros, sãos, integrados e unidos.

            Não havia mandos e desmandos, propriedades ou proprietários, classes ou estamentos. Não existiam riquezas e nem distâncias. Não se via misérias, carências, esmolas ou doenças. Só existíamos, com todo o nosso vigor. Sem preocupações, sem segundas intenções e sem perturbações de qualquer ordem ou espécie. Não tínhamos o dever ou a necessidade de provar nada a ninguém, pois não havia nenhum tipo de compromisso forçado ou responsabilidades falsas, ilusórias e vãs. Vivíamos livres de amarras imaginárias. Tínhamos uma única obrigação natural: ser vivo.

            Não constituíamos famílias ou lares, pois todos eram pais e filhos, e o lar era o todo. Para sobreviver não éramos incitados a trabalhar, pois não havia nenhum tipo de prostituição, não nos arrendávamos a ninguém.

            Não precisávamos guerrear, matar, roubar ou destruir, já que tudo pertencia e era acessível a todos. Nada faltava, nada excedia, tudo era justo, adequado e exato. Tudo era parte do todo, pois o todo estava presente em cada parte.

            Não necessitávamos de ciências ou religiões, dogmas ou crenças, deuses ou diabos. Não existia nem o bem e nem o mal, nem o conhecimento e nem a ignorância. Não havia monopólios, intermediações, representantes ou representações. Não havia dúvidas, interrogações, pois tudo era claro, homogêneo e total.

            Por isso era chamado de Paraíso, pois mais que um lugar, era, antes, um momento real e concreto de liberdade, justiça e fraternidade.

 

 

            Com certeza, a grande maioria dos leitores estará considerando essas assertivas utópicas, absurdas e quiméricas. Exageros de um “Quixote” sonhador e desnorteado, sem noção nenhuma do presente e da realidade. Devaneios de uma mente doentia, desajustada e excluída da sociedade. Frutos apodrecidos de um pária, de um pseudo-rebelde, órfão e pagão do sistema. Mais um perdedor, um pessimista descartado e abandonado pelos demais. Um louco desvairado e isolado; um infeliz sem expectativas e sem futuro.

            É esse o sentimento da grande maioria, quando esta se depara com alguém que não se atrela ao padrão estabelecido. É essa negação imediata, mecânica e automática que, como um anteparo, um escudo, tenta proteger, afastar e repudiar tudo aquilo que nega, critica e faz pensar.

            Antes de qualquer julgamento ou conclusão por parte das pessoas, gostaria de colocar alguns questionamentos básicos em relação ao modus operantis do sistema:

            Até que ponto estamos realmente inseridos no sistema? Escolhemos ou fomos forçados a integrá-lo? Qual o preço que estamos pagando para fazer parte disso? Quem pode ser considerado como perdedor: o excluído ou o inserido no sistema?

            Você está feliz? Você se sente à vontade e realizado com sua vida? Você sente orgulho naquilo que você se transformou? Quais foram as suas conquistas? Quais são as suas certezas? Quanto você utiliza de suas potencialidades no seu dia-a-dia?

            Essas indagações têm como objetivo fazer com que as pessoas despertem e se conscientizem de que não estão em situação tão privilegiada ou tão diferente da dos excluídos. Que mesmo subserviente e fiel aos seus ditames, as pessoas não conseguem ter certeza de alcançarem algum sucesso de nenhum tipo, a não ser a obrigação de sempre servir a outrem, sem saber o porquê e qual o verdadeiro motivo de aceitar tudo isso.

            Se tentarem responder aos questionamentos acima, perceberão que muitos se limitarão a dizer: “Para que se preocupar com essas coisas, não vai acontecer nada de novo”; “a vida é assim mesmo”; “nada muda, é sempre a mesma coisa”; “nada se cria, tudo se copia”...

            Essa é a postura esperada e exigida pelo sistema a cada um de nós. Só encontramos pessoas limitadas à posição de espectadores; passivas, atadas e sem nenhuma possibilidade de reação, de resistência ou de mudança. Isso porque tudo é previsível, repetitivo e passível de um prognóstico. Tudo segue um mesmo padrão imposto e definido pelo sistema.

            Se vocês observarem com cuidado, constatarão que elas não são contrárias a tais argumentos, mas sim ao incomodo que eles provocam na postura assumida por vocês. É esse incomodo que provoca a negação instantânea a todo tipo de critica ao sistema. Isso porque sabemos que a culpa é sempre nossa por acatar a condição imposta, a situação como se põe e se apresenta.

            O sistema não pode invadir ou ir além da nossa vontade; afinal de contas quem decide o que, o como e o quando em nossa vida somos nós mesmos. Em suma, somos aquilo que decidimos ser; estamos onde escolhemos estar. Basta um “basta” e tudo muda, se transforma e ganha novos ares. É só querer e agir de tal forma: simples, direto e reto. “Vini, vici, Vinci!!!”.

            Se o Paraíso é na Terra e se fomos expulsos dele, onde ele fica? É óbvio que esse Éden não é uma área geográfica, pois se fosse já teríamos encontrado sua localização. Logo, o que é o Paraíso?

            É nosso estado mental, o Paraíso está dentro de nossa mente. Daí minha tese de que a humanidade se encontra num estado de esquizofrenia, pois a queda do Paraíso, nada mais é que o momento em que criamos um mundo paralelo, um mundo artificial, que só existe na mente humana. O que precisamos para voltar ao Paraíso é voltarmos à viver e interagir com o mundo como fazíamos antes da nossa expulsão, respeitando nossa natureza e a natureza das coisas. E para isso basta ver o mundo como propomos no início dessa postagem. Isso já acontece com a elite que comanda e domina a maioria, já que eles se beneficiam com a esquizofrenização das pessoas, pois acreditam que se o Paraíso for acessível a todos, este deixará de existir, já que a felicidade é para poucos, para os “escolhidos”, os “Eleitos de Deus”. Raciocínio típico de mentes egoístas e preconceituosas.

            Continuaremos analisando o mito nas próximas postagens.

 

Cordialmente

Fernando Manarim

 

 

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