Filosofia do possível

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domingo, 7 de junho de 2015

“BRANCA DE NEVE E OS SETE ANÕES:ARQUÉTIPOS DA FRUSTRAÇÃO” PARTE I

 A VITIMIZAÇÃO FEMININA:
“BRANCA DE NEVE E OS SETE ANÕES:
ARQUÉTIPOS DA FRUSTRAÇÃO”
PARTE I


INTRODUÇÃO

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                Hoje vamos abordar como os contos infantis são empregados para propagar a estruturação social, especialmente do gênero feminino, segundo os ditames da doutrina judaico-cristã no mundo ocidental. O conto que analisaremos, como referencial modelar de todos os demais contos de mesmo enfoque temático, será o grande clássico produzido pela Disney, “Branca de Neve e os Sete Anões”, primeiro conto a ser filmado como longa metragem e inaugurador desse novo tipo de entretenimento voltado principalmente para as crianças, mas que alcança aceitação massiva em todas as faixas etárias, com constantes recordes de bilheteria e arrecadação. Seu sucesso foi tamanho que esses filmes continuam sendo produzidos, crescente e constantemente, até os dias atuais.
                Não iremos discorrer sobre o conto em si, mas antes indagaremos sobre o porquê da sua escolha. Quais as razões que levaram a pender por esse conto e não outro qualquer.  Quais as mensagens subliminares que querem difundir como referência ideal a ser seguido pelas pessoas; enfim, qual a “moral da história” que deve ser inculcada como objetivo essencial a ser cumprido e adotado como lema de vida por todos.
                Eis os principais tópicos que iremos considerar, seguindo a linha filosófico-doutrinária inaugurada pelo Mito do Pecado Original, de inferiorização e depreciação do gênero feminino, algo sempre repetido e reafirmado incansavelmente, em todas as faixas etárias e gerações.

SOBRE O NOME DA PERSONAGEM PRINCIPAL

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                Branca de Neve é um nome diferente, estranho, pois se remete a uma cor de maneira reiterada, já que a neve também é branca. E, sem dúvida, a personagem é branca como a neve. Mas, não é normal nomear as pessoas dessa maneira, e isso, num primeiro momento, chama nossa atenção. Mas, como tal nome da personagem pode ser empregado como meio de disseminação da doutrina judaico-cristã? O que se pode propagar subliminarmente através desse tipo de nome da personagem?
                Uma das marcas basilares da religião judaico-cristã é a propalação e a valorização do preconceito e da discriminação em geral, seja ela racial, sexual ou econômico-social. Desde seu nascimento, os judeus afirmavam ser o seu Deus o único verdadeiro, sendo o restante, segundo eles, crendices e sandices menores e inferiores. E, eles sempre adotaram o mesmo procedimento de aviltamento e depreciação para tudo que não se alinhavam com seu sistema doutrinário. E, no caso do gênero feminino não foi diferente, utilizando, inclusive, as fábulas infantis, como elemento doutrinário para formatação do tipo de mulheres à serem concebidas. Fábulas como Branca de Neve, Cinderela e A Gata Borralheira, pertencem a mesma linhagem pedagógica na estruturação do ideal de gênero feminino, desde o Mito do Pecado Original.
                Branca de Neve é um nome que traz muitos significados importantes para a disseminação da doutrina.  Primeiro, que representa a raça branca, ariana, raça dominante no mundo ocidental, torrão onde a religião monoteísta se instaurou e onde é o credo hegemônico e predominante. Logo, a heroína da estória é da raça branca, modelo de como deve ser uma verdadeira princesa e como todas as meninas do mundo devem se espelhar para serem análogas à heroína idealizada. Isso causa um certo incomodo étnico para as meninas de outras raças, já que ao longo da vida , inconscientemente, aparecerão sentimentos de frustração e marginalização em relação ao arquétipo de princesa propagada, reforçadamente, pela mídia mundial.

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                Eis o que a religião quer semear na mente das meninas e das pessoas em geral: distanciamento, desinteresse e negação das raízes de 2/3 da humanidade.
                Outro elemento trabalhado subliminarmente pela filosofia monoteísta é a questão do branco como símbolo do alvo, da pureza, do intocável, do vedado, do não-conspurcado por ninguém, do virginal. Ao fim e ao cabo, o objetivo aqui visado é a supervalorização do conceito da virgindade sexual, da pudicícia, da castidade, elemento-chave na estruturação mental, social e na moralização divina do mundo ocidental em geral. É por esse caminho que os doutrinadores-catequizadores conseguem adestrar e enquadrar a todos. É através dessa castração simbólica que o instinto é desmoralizado e destruído, transformando os seres humanos em animais cativos, mansos e de fácil condução e direcionamento, convertendo a humanidade numa manada passiva e sem vontade própria para viver.

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                E quem será responsável por este cerceamento sexual dos seres humanos? As mulheres.  Isso porque a mulher é a única agraciada com a possibilidade de gerar uma vida, eternizando a espécie, suscitando um poder inato que a colocaria, como nas demais espécies animais, no comando natural da raça humana. Eis a principal preocupação dos mentores da doutrina religiosa ocidental, representantes do gênero masculino, que temendo o rebaixamento dentro da raça, recorrem ao artifício de uma constante exposição depreciativa e inferiorizante do gênero feminino.
                Uma das alternativas primordiais para desviar a consciência feminina de sua hegemonia natural é responsabilizá-la, comprometê-la na missão de controlar e refrear a realização do coito entre os seres humanos, retirando o prazer e a necessidade inata da relação sexual, transformando-a em algo ilícito, pecador e principal motivador da danação eterna, que deve só ser feita com uma única pessoa por toda a vida e apenas para manutenção da espécie; o sexo perde todo o viço, toda a conotação sedutora, todo seu deleite, toda sua liberação energética e saudável, se transformando em culpa, angustia e vergonha; e a mulher perde muito da sua potencialidade natural, pois por ter sido a grande culpada da “Queda do Paraíso”, deve se redimir sendo a guardiã moralizadora do sexo e com isso se tornar refém e prisioneira do “tesouro” guardado por ela.

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                E a personagem Branca de Neve, assim como em todo o filme, manifestará simbolicamente todos esses conceitos doutrinários e manipuladores na formação, na mecanização e na massificação do seu credo. De maneira mágica, “inocente” e sutil, seus preceitos serão propagados aos quatro cantos do planeta, fazendo parecer natural monstruosidades absurdas como a imposição racial, a negação do instinto sexual, a depreciação de outras culturas e a escravização e inferiorização de um gênero para a exaltação de outro. Infelizmente assim, de maneira oportunista, a eles explorarão os contos infantis, lobotomizando e enquadrando todas as pessoas dentro de um mesmo e único sistema autoritário e impositório, sempre visando a eternização desse status quo discriminatório, preconceituoso e artificial.  
Esses serão alguns dos tópicos que continuaremos a analisar na próxima postagem de “Branca de Neve e os Sete Anões: os Arquétipos da Frustração”.

ABRAÇOS
FERNANDO MANARIM