Filosofia do possível

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quarta-feira, 11 de novembro de 2015

FILOSOFIA SEM DELÍRIOS, FILOSOFIA DO POSSÍVEL: DEUS ÚNICO - O UNIVERSO EM DESENCANTO

FILOSOFIA SEM DELÍRIOS, FILOSOFIA DO POSSÍVEL: DEUS ÚNICO - O UNIVERSO EM DESENCANTO: MULTIVERSO E A TEORIA DA MULTIPLICIDADE INTRODUÇÃO: DEUS ÚNICO - O UNIVERSO EM DESENCANTO               O conceito ...

DEUS ÚNICO - O UNIVERSO EM DESENCANTO



MULTIVERSO E A TEORIA DA MULTIPLICIDADE

INTRODUÇÃO:

DEUS ÚNICO - O UNIVERSO EM DESENCANTO

 

            O conceito de unidade é ilusório, fantasioso, irreal e quimérico. Foi criado objetivamente com a missão de manipular as pessoas dentro de um determinado padrão estrutural. Essa conceituação fez com que criássemos uma responsabilidade que nos relegou a um peso existencial insuportável, que acabou nos sentenciando a um dia-a-dia pesado e estático, tirando todo o frescor e a leveza de ser vivo. Éramos frações finitas de um todo imensurável, com a cobrança moral de divindades pletóricas e irrepreensíveis, como se pudéssemos, em algum momento, atingirmos tal magnitude imortal.


            Esse descalabro injusto, foi algo planejado de maneira frígida e com uma algidez impecável com a finalidade de impingir uma culpabilidade penitente, crucificando moralmente a humanidade à uma situação prometeica sem nenhum tipo de compensação ou ressarcimento existencial, à não ser no pós-morte, algo impossível de ratificação real e concreta. Muito pouco em troca de tamanha penalização degradante, mas que por ser imposta como única condição humana, acabava por ser digerida naturalmente, fazendo com que todos vissem ser este o fim de toda a existência humana. Uma vida sem brilho, sem esperanças e sem nenhum tipo de realização, a não ser o sofrimento, a dor, a culpa e a resignação.

            E a gênesis de toda essa desventura teve sua origem no conceito de unidade, lançada primeiramente sob o formato religioso da crença no “Deus único e verdadeiro”, que ganhou espaço e peso através do povo judeu, na época de sua servidão forçada à civilização egípcia antiga. Esse ideário monoteísta, excludente que simplificava grosseiramente toda a complexidade do todo, a um nível empobrecedor depauperando e minimizando as coisas à uma singularidade utópica e desfiguradora, ultimou nossa visão a uma miopia filosófica-existencial, nos obrigando a viver de maneira trôpega, dormente e sonâmbula, como se existir fosse algo próprio das lembranças do passado ou de projeções do futuro, onde o presente era quimérico e impossível para o alcance de nossas mãos.

            Ideologia própria de um povo sentenciado a uma sujeição escravizante, sem grandes probabilidades de libertação e que para sair de tal situação asfixiante precisava criar um ideário de completa oposição a seu verdugo civilizacional, única probabilidade para escapar de seu jugo tiranizador.

 Além disso, por estarem em posição de total subjugação, seu grau intelecto-cultural era pobre e, como resultado de tal opressão, era urgente que criassem uma ideologia própria que pudesse ser facilmente compreendida pela maioria de seu povo, sendo absorvida de maneira direta e clara, sem muitos malabarismos racionais. Eis a que se resume o ideário monoteísta, uma filosofia direta, simplificadora, redutora, fúfia e tosca. E a comprovação disso está na necessidade da crença como principal atribuição de seus seguidores, já que a tese que defendem não podem ser comprovada e demonstrada concretamente.


Essa simplificação da realidade à uma unidade sintetizadora, trouxe uma possibilidade enganosa a humanidade, pois abriu a probabilidade de que a verdade poderia ser alcançada, já que era única, seja lá o nome que lhe fosse outorgada: Deus, Átomo, Ego, Unidade, Verdade, etc. E assim passamos a viver e ver o mundo como algo aglutinado, resumido, homogeneizado; onde a diversidade, as diferenças, os detalhes, a complexidade, foi brutalmente sacrificada sob uma mesma fórmula, generalizante e excludente, empobrecendo todas as nuances e vieses que perfazem e compõem a trama que constitui o todo.

O resultado disso foi uma catástrofe psicossomática nunca vista antes pelo seu grau de magnitude e nível de destruição em série; destruição gradual, sendo incrustada na espécie humana paulatinamente, transformando o homem, formado sob sua égide, em algo fraco, fragilizado, quebradiço, atormentado por um protótipo artificial forjado apenas para o domínio e o controle completo desses seres rebaixados à condição de uma eterna servidão. Eis o principal objetivo desse relicário às avessas, que travestido por mandamentos impiedosos e irrealizáveis, acabaram por recusar de maneira atroz e mordaz toda a natureza humana, como se tal feito fosse possível sem gigantescas contra-indicações e enfermidades descaracterizantes. Com o monoteísmo judaico-cristão, o homem se coloca no mesmo patamar de criador universal, e esquizofrenicamente possuído por tal síndrome megalomaníaca, transmuta o homem, em sua mente delirante, em algo que não é; tal delírio irrealizável, transforma o homem em um monstro todo retalhado e descaracterizado, ser grotesco, violento e agressivo por não se reconhecer mais.

Esse monoteísmo ditatorial, criador de dogmas utópico-moralizantes, terminou por transformar a humanidade numa manada bovina, onde cada um segue o animal da frente, sem olhar para os lados, resignado à sorte diagnosticada por um Deus castrador e adestrador que o criou para mutilar. Eis a pantomima orquestrada pelo rancor de um povo que era massacrado e que vingativamente resolveu retribuir as mazelas a que estavam sujeitos através de sua máxima mais característica: “olho por olho, dente por dente”. Uma religião sem amor, compaixão, piedade... Eis o berço da dita civilização ocidental, império alicerçado sob areia movediça ideológica, gerador de homens atormentados por não poderem existir naturalmente, mas sim sob o paradoxo de refrear seus impulsos instintivos, para a conquista do “reino de Deus”; mas para quem?