Filosofia do possível

Filosofia do possível

sábado, 28 de fevereiro de 2015

PARTE V - O CONHECIMENTO


O CONHECIMENTO

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            O que havia de tão proibitivo naquele fruto que era totalmente censurado a todas as partes constituintes da Criação? Por que o Criador, de maneira tão rígida e peremptória, restringia e vedava o acesso de todos àquela árvore tão misteriosa e obscura?

            A resposta só se sucedeu depois que Adão e Eva realizaram um ato gravíssimo de insubordinação e de desobediência nunca antes praticado até então: degustaram o tal fruto proibido!

            A partir daquele instante a espécie humana passaria por uma mudança radical na sua maneira de ser e de se relacionar com o seu entorno.

            O principal componente responsável por tamanha transformação, originário de tal fruto, era nomeado de “conhecimento”. Esse alucinógeno natural, de grande potencialidade e durabilidade, foi o principal agente causador da incrível alteração psico-mental sofrida por toda a espécie humana desde então.

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            Com a ingestão do conhecimento o ser humano obteve o dom da “criação”. Esse poder advindo e adquirido por sua falta foi, na verdade, uma forma disfarçada que o homem inventou para tentar driblar e mascarar suas incertezas, temores e, principalmente, sua insignificância como parte mortal, participativa e funcional na composição do todo.

            Com o advento do conhecimento o ser humano imaginou que conseguiria se insurgir contra sua situação, almejando a possibilidade de ascender ao mesmo status do seu criador.

            Pena que toda essa “revolução” tenha ocorrido apenas e tão somente nos seu imaginário febril e esquizóide. Na realidade anterior, no Paraíso natural, nada havia mudado; tudo continuava dentro da sua normalidade e funcionalidade original. Em suma, todas essas pseudo-transformações aconteceram e continuaram ocorrendo somente em sua mente delirante, em nenhum outro lugar.

            O que o homem chamava de “criação”, não era nada mais, nada menos que transformações e alterações do estado dos objetos trabalhados. Nada se criava nem se destruía; tudo apenas passava por transformações; pois a parte não podia criar nada de novo no todo.

            Assim, se fizermos uma comparação com grandes personagens ficcionais da nossa literatura mundial, poderemos constatar que a partir da invenção do conhecimento, o homem se transformou num Dom Quixote patológico, utópico, depressivo e demagógico. Um sonhador estático, sem identidade própria e sem rumo certo. Um ser infeliz por não aceitar sua condição natural e in natura de ser criatura, parte e fragmento.

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            Conhecer algo é chegar à sua mais ínfima essência; é apreender sua verdade total. Ter uma visão plena e vasta do objeto estudado como um todo.

            Tal exercício é inteiramente impossível de acontecer com o ser humano. Uma fração não tem como atingir tal nível de compreensão e entendimento das coisas. Como algo confinado, inconstante e parcial pode conhecer? Como o limitado pode assimilar e apreender o ilimitado? Nunca!

Sendo assim, o conhecimento é naturalmente inatingível e intangível para toda a espécie humana. É algo que foge inteiramente de sua alçada e que, por isso, escapa de todas as suas possibilidades enquanto criatura auxiliar e coadjuvante de todo esse processo criacional, do qual é partícipe.

 

Seguindo essa linha de raciocínio fica notório constatar porque o mito do Pecado Original é tão inverossímil de ter ocorrido da forma que nos foi narrado. Mesmo que o ser humano tivesse entrado em contato e ingerido o tal fruto proibido, nada teria acontecido a ele, visto que tal instrumento é infinitamente superior e mais poderoso que as possibilidades e a capacidade estrutural e mental de toda a espécie humana.

O conhecimento exige e comporta essa potencialidade descomunal em comparação a quaisquer das partes componentes. É algo só viável àquele que foi o responsável pela criação, construção e pelo funcionamento do todo. Só o criador comporta tal ferramenta de entendimento e compreensão, nenhum outro pode carregar tal carga.
 
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Eis o mistério da Fé!!! Acreditar que pode atingir mais do que pode “carregar”!!! Delírios de uma mente doente e monstruosa!!!

Abraços e cumprimentos a todos

Fernando Manarim

 

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

PARTE IV - A DIVINIZAÇÃO DO SISTEMA


DIVINIZAÇÃO DO SISTEMA

 

          Uma das principais mensagens deixada pelo Pecado Original foi de nos apresentar o criador como um autor falível, limítrofe e errático. Que mesmo com toda a sua pujança, domínio e autoridade era, simultaneamente, capaz de realizar atos atrozes, duvidosos e surreais em relação à sua própria autoria.
 
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          Mas como um ser onipotente, onisciente e onipresente, responsável por tamanha obra, pode ser ao mesmo tempo relapso, disperso e desatento com o todo?

          Fica claro constatar que tal acontecimento é falho, absurdo e impossível, pois não existe a menor probabilidade de que do perfeito nasça do imperfeito, que do infinito se origine o finito e que do justo emerja o injusto.

          Então, por que o criador nos foi apresentado de forma tão disforme e monstruosa? Qual o verdadeiro motivo para tamanha falácia e descaracterização?

          Sem dúvida, um dos principais objetivos visados era o de apresentar o criador como algo análogo ao sistema. Ele o refletiria e o representaria através de sua constituição; seria sua “imagem e semelhança”.

          Por isso o Deus que adoramos não é aquele que criou o Paraíso, mas, uma mera cópia esboçada do próprio sistema: falível, vingativo, violento, rígido e castrador; que sempre “escreve certo por linhas tortas”. Este criador é mais um instrumento desenvolvido para a manutenção da hegemonia do sistema sobre o ser humano e nada mais.

          Tanto isso é verdade que a partir desse mito, o ser humano passou a viver apenas e tão somente para alimentar, servir e sustentar o sistema; e não o contrário, algo mais lógico e plausível. Foi através do mito, que essa inversão foi inculcada, estabelecida e legitimada como única história oficial e verdadeira.

          Com a imposição de tal engodo as coisas atingiram um patamar mais importante que o ser; a parte passou a imperar sobre o todo e este passou a existir em função de realizar os desejos de determinada parte mal direcionada e esquizofrênica.

          Pelo menos assim nos foi apresentado o Pecado Original: marco inicial e divisório do surgimento de um novo tempo, onde o sistema se transformou em soberano de tudo e de todos.

          Compartilho do pressuposto que o Mito do Pecado Original foi gestado com a intenção prioritária e subliminar de amoldar, propagar e exaltar a idéia do sistema como verdadeiro e único Deus da humanidade. E é dentro dessa distorção ditatorial-monoteísta, dessa aversão metódica de subjugar o homem a segundo plano, que proponho uma releitura do mito baseado na constituição, desenvolvimento e objetivo desse sobejado sistema que aqui se expõe e se evidencia de maneira metafórica.
 
 

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          O primeiro ponto a ser destacado e observado atentamente é a parte referente à culpabilidade da mulher na expulsão da espécie humana do Paraíso; isso pelo fato de ter mordido primeiramente o fruto proibido e, por conseguinte, ter seduzido propositalmente o homem a cometer o mesmo crime e sofrer das mesmas penas e punições.

           Assim, o primeiro e maior dos delitos foi creditado quase que exclusivamente ao gênero feminino. E tal denuncia ocorreu antes mesmo de ter-se consciência da existência de tal divisão entre os sexos.
 

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          É como se imputássemos a alcunha de ladrão a alguém antes mesmo de haver aparecido o conceito de propriedade; que designássemos qualquer um de mentiroso antes mesmo de existir a concepção de verdade. Algo inverossímil, ilógico e cruel por antecipar o inexistente e o impossível. Artifício típico engendrado e utilizado pelo sistema para fixar determinado padrão para sua total realização.

          Algo leviano, covarde e manipulatório por direcionar as pessoas a crerem fervorosamente em aberrações fantasiosas com o objetivo de distorcer e pré-determinar assertivas irreais e especulativas que nada tem a ver com a realidade dos seres e do todo. Quimeras e caprichos inventariados e desenvolvidos pelo sistema com o intuito único e exclusivo de sua eternização no poder.

          Por causa dessa acusação injusta e infundada, a mulher foi relegada a um segundo plano; destinada a uma existência subserviente e servil, acompanhando e auxiliando silenciosamente na penumbra o homem, primogênito eleito e preferido do Deus-Sistema, responsável, entre outros tantos feitos, pelo surgimento da mulher.

          Ao assumirem tal culpa as mulheres pagaram um preço muito alto, pois passaram por diversos martírios e flagelos “divinos”, com o objetivo penal de purgamento para sua redenção e salvação.

          Como apontar a culpabilidade a um dos gêneros humanos se no Paraíso tudo era harmônico, perfeito e justo? Como acusar a mulher de tal delito, se até então não existia nenhum tipo de subdivisão na espécie humana? Qual o verdadeiro motivo por trás da imolação da mulher como principal “bode expiatório” da história? Como julgar a parte se o criador, único responsável pela construção do todo, permitiu tal desvio de conduta?

          É óbvio que tal estória foi concebida única e exclusivamente para adequar e condicionar à humanidade a estrutura forjada pelo sistema. Todo o mito do Pecado Original foi um projeto arquitetado para justificar e explicar todos os erros e acertos, mandos e desmandos, privilégios e injustiças que sustentam toda a divisão social e toda hierarquia de valores inculcados à nossa espécie.

          Toda essa alegoria bíblica foi construída para a deusificação e divinização do sistema; para acatarmos e aceitarmos todos os seus pontos como verdades infalíveis e inquestionáveis. Para que concordemos com todos os preconceitos e pré-julgamentos sociais, raciais, sexuais e culturais sustentados e realizados cotidianamente através de nossas ações e atos conveniados com toda essa estrutura imoral, superficial, artificial e injusta que nos agride, nos violenta e nos nega em toda nossa substancialidade natural de ser humano.

          Eis o verdadeiro motivo de toda essa discriminação que o gênero feminino vem sofrendo desde então: uma discriminação fabricada, mantida e imposta à espécie humana, independente da sua vontade; que acaba por nos separar e nos cindir, fazendo com que passemos nossa vida em constante contradição com nossa verdadeira natureza e com o todo em geral.

          Na próxima postagem abordaremos o segundo ponto a ser atacado e aviltado pelo mito do Pecado Original, que é a discriminação ao conhecimento.

 

 

 

 

Abraços!

Fernando Manarim

 

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

PARTE III - O FRUTO PROIBIDO


O MITO DO PECADO ORIGINAL

“O GÊNESIS DA CONVALESCÊNCIA DA HUMANIDADE”

 

PARTE III
 
O FRUTO PROIBIDO

 


            Aconteceu no Paraíso um fato terrível, catastrófico e surpreendente que revolveu e revolucionou toda a história da humanidade. Ao morder-se a maçã, ao desrespeitar inexplicavelmente uma ordem superior, o pai virou carrasco, o amor se transfigurou em vingança e ódio, a harmonia se transformou em conflito e, de uma hora para outra, a paz e a concórdia deixaram de reinar. Tudo por culpa da desobediência irresponsável de uma de suas partes constituintes; nesse caso, nós os seres humanos.

            A partir dessa transgressão apareceram características até então adormecidas e inimagináveis num mundo ideal e perfeito. Nasceram a curiosidade, a indiscrição e a mentira. E todas essas coisas se concretizaram de repente, do nada, instantaneamente, sem nenhuma explicação plausível, cuidado ou precaução. Uma catástrofe brusca, bruta e traumatizante. Éramos uma coisa e imediatamente após um ato nos transformamos em outra totalmente diferente.

            Depois desse acontecimento, o homem passou a levar uma vida errante, penosa e sem finalidades claras. Em função de seu delito, foi castigado, fadado ao exílio e ao sofrimento.

            Sob a pena desse fatídico veredicto, nossa vida foi piorando gradativamente. Fomos expulsos, rebaixados e, com isso, perdemos o rumo e o sentido da existência. Viramos réus suspeitos, pecadores imorais, traidores fracos, desprezíveis e descartáveis. Perdemos todas as benesses e vantagens edênicas; “ganhamos” com nossa escolha impensada e indiscreta, uma pesada autonomia e certa independência que nos obrigou, ‘para sempre’, a lutar pela sobrevivência como párias.

            Concordando ou não com a veracidade desse mito, é sob esse jugo maldito que passamos a existir desde então. Sempre pedindo desculpas, sempre procurando a aprovação divina, sempre cabisbaixos e com a consciência pesada; bípedes rastejantes buscando, apenas e tão somente, serem perdoados e agraciados, quiçá um dia, com o sonhado retorno ao “Paraíso perdido”.

 

 

ADEUS AO PARAÍSO

 

            A alegoria do Pecado Original, como já salientamos anteriormente, tomou uma direção contrária e inesperada em seu ritmo natural. Esse desacordo sempre nos chocou e nos surpreendeu pela falta de nexo, coerência e total reviravolta que tal narrativa causou em nosso destino e na nossa compreensão do todo.

            Essa surpresa traumatizante sentida por nós pode ser entendida sob uma perspectiva crítica e questionadora acerca dos verdadeiros objetivos que o geraram. Só conhecendo os motivos causadores de tais contradições é que podemos ter uma visão mais clara e ampla dessa situação.

            O mito bíblico ficou incoerente no momento em que foram adicionados sentimentos e condições que negavam completamente toda a estruturação daquilo que pretende ser um mundo perfeito e ideal.

            Esses momentos podem ser facilmente verificados através dos seguintes questionamentos:

            Como pode haver um fruto proibido num mundo livre, perfeito e ideal?

            Como num mundo harmonioso, homogêneo e integrado uma parte pode ser destacada e ficar inacessível às demais?

            Como ordens até então seguidas regiamente, num instante passam a ser desrespeitadas e desobedecidas por integrantes fiéis e inocentes desse todo?

            Como o homem, estando pleno e realizado, pôde ansiar e ser tentado por algo?

            Como de um criador perfeito e divino pode nascer à imperfeição com todos os seus males e desvios?

            E, como pode existir o “além” do Paraíso, se este era pleno, perfeito e completo?

            Essas indagações incitam uma observação mais atenta e apurada acerca das incongruências lógicas que compõem o mito. E essas incongruências não foram resultado de um fato verdadeiro, mas, antes, de algo proposital, tendo como finalidade criar o caos e a confusão na cabeça dos homens.

            Quando você perde o rumo, se sente num labirinto, fica totalmente à mercê da situação. Fica frágil, indefeso e inteiramente cego perante o futuro. Isso nos imobiliza e nos causa um temor estagnante. Essa condição é efeito de um passado mal resolvido. Essa falta de clareza acerca das reminiscências cria uma ausência de identidade que termina por deixar as pessoas reféns de qualquer tipo de esperanças, verdadeiras ou não. Daí se origina a possibilidade da formulação de esquematizações que ocupem o vácuo deixado pelo passado mal compreendido, resultados de mitos obsoletos, construídos com o objetivo do condicionamento e da manipulação da espécie. É exatamente essa bagunça que o sistema busca causar através do mito do Pecado Original. O que restou para a humanidade: culpa, incompreensão, dúvidas e insatisfação.

            Nas próximas postagens continuaremos a análise do Mito do Pecado Original.

 

Abraços

Fernando Manarim

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

O MITO DO PECADO ORIGINAL - PARTE II


O MITO DO PECADO ORIGINAL

“O GÊNESIS DA CONVALESCÊNCIA DA HUMANIDADE”

PARTE II

 

            Para entendermos o que aconteceu com a humanidade, faz-se necessário analisar como vivíamos antes do castigo divino, o que era viver no Paraíso, no Éden, lugar tão sonhado e buscado pela maioria dos homens. Compreendendo esse estágio, poderemos avaliar o tamanho do estrago que fizeram com nossas mentes, já que defendo a tese que essa extradição é inculcada na maioria das pessoas desde o momento que nascemos. Somos forçados a viver num mundo imaginário, cheio de regras artificiais e contra nossa natureza. E, é isso que provoca todas as mazelas que verificamos no mundo. Mas será que existe uma outra forma de viver? Existe uma outra alternativa de vida? Será que é possível encontrar o Paraíso? Ele é concreto ou sutil? Já estivemos nele, ou são apenas delírios de mentes doentias?

            Segundo o próprio Mito, podemos encontrar o Paraiso divino, pois, essa é a nossa verdadeira natureza, foi assim que fomos criados, para vivermos no Éden paradisíaco. Sendo assim, faz-se necessário abordarmos esse momento pré-Queda.

 

 

ANTES DA QUEDA

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            Antes da maçã, éramos livres, independentes, sem limites e naturais. Vivíamos em harmonia com e pelo o todo. Não havia diferenças, preconceitos, definições, teses ou quaisquer tipos de verticalização. Tudo era límpido, simples, direto e horizontal. A verdade era palpável e concreta, pois esta era a única maneira de se viver.

            Tudo era um eterno presente, sem culpas ou expectativas, sem antes ou depois, sem tempo ou contratempos, sem projeções, invenções, fórmulas, padrões ou decepções.

            Predominava a igualdade e a unidade entre as partes, pois todos traziam em si a percepção de seu valor na constituição e composição do todo. Não havia divisões ou rateamentos; não existia a ideia de ego, do eu e dos outros; éramos um todo; uma unidade. Sem competições, sem retaliações, sem conflitos e sem desgastes. Nosso olhar era amplo, externo e aglutinador.

            Não havia necessidade de mentiras, vergonhas, desonras, engodos ou desculpas. Éramos transparentes, cristalinos e translúcidos. Não existia temor, medo, pânico angustia ou depressões. Não carregávamos o peso de outras gerações, nem heranças espoliadas. Éramos íntegros, sãos, integrados e unidos.

            Não havia mandos e desmandos, propriedades ou proprietários, classes ou estamentos. Não existiam riquezas e nem distâncias. Não se via misérias, carências, esmolas ou doenças. Só existíamos, com todo o nosso vigor. Sem preocupações, sem segundas intenções e sem perturbações de qualquer ordem ou espécie. Não tínhamos o dever ou a necessidade de provar nada a ninguém, pois não havia nenhum tipo de compromisso forçado ou responsabilidades falsas, ilusórias e vãs. Vivíamos livres de amarras imaginárias. Tínhamos uma única obrigação natural: ser vivo.

            Não constituíamos famílias ou lares, pois todos eram pais e filhos, e o lar era o todo. Para sobreviver não éramos incitados a trabalhar, pois não havia nenhum tipo de prostituição, não nos arrendávamos a ninguém.

            Não precisávamos guerrear, matar, roubar ou destruir, já que tudo pertencia e era acessível a todos. Nada faltava, nada excedia, tudo era justo, adequado e exato. Tudo era parte do todo, pois o todo estava presente em cada parte.

            Não necessitávamos de ciências ou religiões, dogmas ou crenças, deuses ou diabos. Não existia nem o bem e nem o mal, nem o conhecimento e nem a ignorância. Não havia monopólios, intermediações, representantes ou representações. Não havia dúvidas, interrogações, pois tudo era claro, homogêneo e total.

            Por isso era chamado de Paraíso, pois mais que um lugar, era, antes, um momento real e concreto de liberdade, justiça e fraternidade.

 

 

            Com certeza, a grande maioria dos leitores estará considerando essas assertivas utópicas, absurdas e quiméricas. Exageros de um “Quixote” sonhador e desnorteado, sem noção nenhuma do presente e da realidade. Devaneios de uma mente doentia, desajustada e excluída da sociedade. Frutos apodrecidos de um pária, de um pseudo-rebelde, órfão e pagão do sistema. Mais um perdedor, um pessimista descartado e abandonado pelos demais. Um louco desvairado e isolado; um infeliz sem expectativas e sem futuro.

            É esse o sentimento da grande maioria, quando esta se depara com alguém que não se atrela ao padrão estabelecido. É essa negação imediata, mecânica e automática que, como um anteparo, um escudo, tenta proteger, afastar e repudiar tudo aquilo que nega, critica e faz pensar.

            Antes de qualquer julgamento ou conclusão por parte das pessoas, gostaria de colocar alguns questionamentos básicos em relação ao modus operantis do sistema:

            Até que ponto estamos realmente inseridos no sistema? Escolhemos ou fomos forçados a integrá-lo? Qual o preço que estamos pagando para fazer parte disso? Quem pode ser considerado como perdedor: o excluído ou o inserido no sistema?

            Você está feliz? Você se sente à vontade e realizado com sua vida? Você sente orgulho naquilo que você se transformou? Quais foram as suas conquistas? Quais são as suas certezas? Quanto você utiliza de suas potencialidades no seu dia-a-dia?

            Essas indagações têm como objetivo fazer com que as pessoas despertem e se conscientizem de que não estão em situação tão privilegiada ou tão diferente da dos excluídos. Que mesmo subserviente e fiel aos seus ditames, as pessoas não conseguem ter certeza de alcançarem algum sucesso de nenhum tipo, a não ser a obrigação de sempre servir a outrem, sem saber o porquê e qual o verdadeiro motivo de aceitar tudo isso.

            Se tentarem responder aos questionamentos acima, perceberão que muitos se limitarão a dizer: “Para que se preocupar com essas coisas, não vai acontecer nada de novo”; “a vida é assim mesmo”; “nada muda, é sempre a mesma coisa”; “nada se cria, tudo se copia”...

            Essa é a postura esperada e exigida pelo sistema a cada um de nós. Só encontramos pessoas limitadas à posição de espectadores; passivas, atadas e sem nenhuma possibilidade de reação, de resistência ou de mudança. Isso porque tudo é previsível, repetitivo e passível de um prognóstico. Tudo segue um mesmo padrão imposto e definido pelo sistema.

            Se vocês observarem com cuidado, constatarão que elas não são contrárias a tais argumentos, mas sim ao incomodo que eles provocam na postura assumida por vocês. É esse incomodo que provoca a negação instantânea a todo tipo de critica ao sistema. Isso porque sabemos que a culpa é sempre nossa por acatar a condição imposta, a situação como se põe e se apresenta.

            O sistema não pode invadir ou ir além da nossa vontade; afinal de contas quem decide o que, o como e o quando em nossa vida somos nós mesmos. Em suma, somos aquilo que decidimos ser; estamos onde escolhemos estar. Basta um “basta” e tudo muda, se transforma e ganha novos ares. É só querer e agir de tal forma: simples, direto e reto. “Vini, vici, Vinci!!!”.

            Se o Paraíso é na Terra e se fomos expulsos dele, onde ele fica? É óbvio que esse Éden não é uma área geográfica, pois se fosse já teríamos encontrado sua localização. Logo, o que é o Paraíso?

            É nosso estado mental, o Paraíso está dentro de nossa mente. Daí minha tese de que a humanidade se encontra num estado de esquizofrenia, pois a queda do Paraíso, nada mais é que o momento em que criamos um mundo paralelo, um mundo artificial, que só existe na mente humana. O que precisamos para voltar ao Paraíso é voltarmos à viver e interagir com o mundo como fazíamos antes da nossa expulsão, respeitando nossa natureza e a natureza das coisas. E para isso basta ver o mundo como propomos no início dessa postagem. Isso já acontece com a elite que comanda e domina a maioria, já que eles se beneficiam com a esquizofrenização das pessoas, pois acreditam que se o Paraíso for acessível a todos, este deixará de existir, já que a felicidade é para poucos, para os “escolhidos”, os “Eleitos de Deus”. Raciocínio típico de mentes egoístas e preconceituosas.

            Continuaremos analisando o mito nas próximas postagens.

 

Cordialmente

Fernando Manarim

 

 

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

O MITO DO PECADO ORIGINAL - PARTE 1



O MITO DO PECADO ORIGINAL
“O GÊNESIS DA CONVALESCÊNCIA DA HUMANIDADE”
PARTE I

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          Esse mito representa um marco decisivo na história do ser humano. Simboliza uma mudança radical, bruta e abrupta nos rumos da humanidade e de nossa relação com a criação. Segundo nos é relatado, a partir desse divisor, fomos exilados, torturados e extirpados de nossa condição original e existencial em nossa relação com o todo. Algo injusto, cruel, doloroso e inexplicável vindo de um “Pai” tão bondoso, justo e perfeito, como nos é caracterizado a figura do Criador. Mesmo sendo reflexos, nos impusemos como se deixássemos de ser criaturas, como se ocupássemos o mesmo patamar do criador. Algo inverossímil e totalmente absurdo, dentro do padrão e do enredo do mito.
          Mas afinal, o que aconteceu para que tal fato tão violento e radical ocorresse? Por que foi permitido que tal “pecado” acontecesse num mundo tão perfeito e justo? Como explicar que uma pequena fração de seres tão insignes, pudesse ocasionar tamanha desordem e abuso contra as ordens explícitas do Todo-Poderoso?
          Esses questionamentos naturais nunca foram respondidos de forma convincente, pois sempre que ocorria tais indagações, os “enviados de Deus” apelavam para uma frase muito usada por estes doutrinadores: “Eis o mistério da fé”. Recurso oportunista para aqueles que não têm nenhum tipo de resposta para oferecer. Sabemos que só se emprega a fé quando não existe comprovação possível. Em outras palavras, fé é sinônimo de ignorância, algo próprio de seres que se colocam em patamares inferiores e de dependência em relação aos seus medos, angustias e aflições. Comportamento típico de quem está mais voltado aos instintos que à razão.
          Por outro lado, gerou-se certa independência e autonomia, até então inédita entre as partes componentes desse todo; isto nos transformou em algo singular e inaudito até então, quase uma aberração para os padrões da criação daquele momento. Segundo a lenda, tal expulsão edênica acabou por nos pinçar, nos destacar e nos elevar em comparação com as demais partes inclusas. Nasce uma hierarquia e com ela graus de diferenciação até o momento inexistentes e improváveis dentro do plano estabelecido.Tudo mudou e transfigurou-se para sempre a partir daquele instante, ganhando um colorido novo e inusitado. Pelo menos foi essa a estória que nos foi contada e ensinada desde então.
          Se observarmos esta história de maneira mais atenta e distanciada como nos foi passada e interpretada fica claro que é mal construída e extremamente tendenciosa e manipuladora. Que tamanha aberração literária nos foi relatada fundamentalmente com o intuito de moralizar e escravizar as pessoas a acatar e obedecer a determinados comandos e comandantes. Um dos objetivos principais era de nos tirar da realidade, do presente e nos transformar em “zumbis” que passariam a viver adormecido e sempre num estado onírico e utópico, sempre se relacionando ou com o passado ou com o futuro, nunca tendo a verdadeira dimensão do agora.
Aqui, gostaria de propor alguns questionamentos polêmicos e provocativos em relação a essa interpretação herdada do mito. Interrogações com o objetivo de abrir novas possibilidades de análise acerca do entendimento imposto; isso porque se analisarmos essa história como nos foi passada e interpretada fica muito claro que ela tinha como principal meta atemorizar e criar um sentimento de culpa nos “fiéis”, característica básica de todos àqueles que são religiosos, ou como eles gostam de se auto-alcunhar, “tementes a Deus”.
          Primeiramente, será que isso aconteceu da maneira como nos é interpretado oficialmente ou esse mito não passa de fruto da imaginação humana, inculcado e condicionado para obtenção do controle e hegemônico de uma elite sobre a maioria dos homens?
          Será que tal simbolização é real ou efeito de algum trauma mal resolvido, ocorrido a partir daquele momento, causando uma espécie de “esquizofrenia coletiva continuada” que nos anestesiou, hipnotizou e que nos acompanha até os dias atuais?
          Será esse mito uma armadilha criada pelo ego humano para nos elevar a um patamar enganoso que nos ilude e nos impinge uma superioridade ilusória, desviando-nos de nossa real condição?
          Ou, será que nos alijaram intencionalmente da verdadeira interpretação e este mito é, antes, uma chave que nos coloca de volta à situação que vivíamos antes desse acontecimento?
          Se concordarmos com todos os questionamentos acima levantados, por que, para que e com quais finalidades tal interpretação nos foi impostada e condicionada em nossas mentes?
          Esses são alguns pontos fundamentais que merecem ser abordados com todo cuidado por serem responsáveis pela configuração de como vemos, sentimos e existimos no todo. Proponho uma visão alternativa e diferente da ótica oficial. Uma abordagem sob um novo prisma, que poderá alterar completamente nossa maneira de ser e compreender o mundo. Um retorno às condições de vida antes da mordida na maçã. Um mundo, talvez, sem tanto rancores, vaidades e prepotências. Apenas partes iguais de um todo que parecia ser harmônico, pleno e completo, como éramos antes de toda esse pesadelo inventado para nos desviar de nossa verdadeira natureza humana.
          Continuaremos esse tema nas próximas postagens, voltando a lembrar que quaisquer indagações ou comentários acerca do texto serão sempre apreciados com seriedade por parte do autor.

Grato
Fernando Manarim