INTRODUÇÃO
O ser
humano passa por uma grave crise, pois algo o domina, o envolve e o manipula há
muito tempo. Sem identidade, sem certezas e sem rumo, a humanidade, doente,
passou a viver uma vida errante, de profunda mendicância existencial, por
buscar algo que ficamos privados e que, por algum motivo, não nos recordamos
nem como e nem porque tudo isso aconteceu. Esse “algo” extraviado ficou
conhecido historicamente com o nome de “Elo Perdido”, verdadeiro ‘Graal’ redentor
que tem o dom de expurgar e nos redimir de todo esse mal que nos assola e nos
crucifica diariamente. Sentimos que em nosso cerne “esse algo” ecoa pela
restituição de sua verdadeira importância e funcionalidade em nossas vidas.
Procuramos pelo “mapa do tesouro” que nos reconduza àquela riqueza interna da
humanidade, libertando-a de vez desse jugo falso e depreciador que a amaldiçoa e
a atormenta existencialmente.
Perdemos a
noção do que é verdadeiro por não termos a menor idéia do que é e do que não é
real. Essa amnésia genealógica, esse simulacro do real, essa supervalorizada
“humanização do todo”, acabou por nos subjugar e nos amarrar, estanques,
enquanto seres vivos. Sem as reminiscências desse princípio harmônico, não
conseguimos recuperar a concepção do que é verdadeiro e essencial para a
realização da humanidade. Faz-se prioritário a recondução a essa “fonte da
eterna juventude”, manancial primordial que nos fará navegar de volta àquela realidade
primeva, nos reconduzindo ao papel que nos foi outorgado nessa trama universal
onde somos, apenas e tão somente, parte integrante e funcional dessa engrenagem
que nos envolve e nos dá o verdadeiro sentido da vida.
Essa
traumatizante exclusão do “Paraíso” se concretizou quando, por alguma razão, o
irreal passou a ter a pretensão de ser mais real do que a própria realidade.
Quando essa necessidade patológica, essa criatura monstruosa, fruto do engenho
humano, ganhou status hegemônico e passou a ditar a ordem do todo, inclusive de
seus criadores, invertendo a ordem natural das coisas. Quando a linguagem, o
rótulo e as máscaras se tornaram mais imprescindíveis e mais determinantes que
o próprio ente; quando a fantasia e o símbolo passaram a ter mais relevância
que o próprio ato e a atitude; algo absurdo, burlesco, efeito de algum tipo de
anomalia grotesca gerada por um trauma gigantesco, não resolvido e mal digerido
por toda a espécie humana. Simulacros e fantasias típicas de quem se perdeu do
caminho da “vovó” por medo de algum “lobo mau” devorador e destruidor dos
pueris sonhos de uma criança autista que se recusa a amadurecer. Por causa
dessa recusa de crescer, dessa síndrome de Peter Pan mal resolvida, o ser
humano criou um submundo virtual, um “Labirinto de Minos”, onde ele pôde
construir a realidade desejada, como se fosse o próprio Deus da Criação. Daí os
conceitos aberrantes e prepotentes de “imortalidade da alma”, de “imagem e
semelhança com o Criador”, do “estar sentado á direita do Pai” e outros
absurdos delirantes, fruto de uma mente doentia e esquizofrênica, que acreditou
no invento imaginário criado por ele mesmo, gerando uma brincadeira de mau
gosto, própria de criança mimada, que acha que tudo pode e que nada de mal vai
lhe acontecer, independente de quaisquer das suas traquinagens, pois esse Deus antropológico
é bom, protege e perdoa sempre.
Transformamo-nos em vítimas e reféns de algo
que nada tem a ver com a vida; que é virtual e caricato, por ser resultado de
nossas alucinações e pesadelos. Inventamos um “mundo da carochinha” que nos
alienou e nos alijou de nossa verdadeira natureza funcional e partícipe, esse
algo anterior que nos contém e nos orienta, por ser essa nossa verdadeira
natureza. Esse mundo artificial e astucioso, originado de nossa negação
existencial, terminou por nos distrair e nos desviar de nossa verdadeira
condição, fazendo com que esquecêssemos completamente de nosso verdadeiro
destino já delineado, desse algo próprio que ocultamos e enterramos por algum
temor que não conseguimos enfrentar e que por isso nos ata como “Prometeus
acorrentados” em sua rocha artificial, com os abutres devorando suas vísceras e
sua tocha sem chamas, já que ao despertar constatou que nada tem de divino, e por
isso se desilude, se entrega e desiste de continuar lutando por sua existência,
parado, torpe e sem forças para contra-atacar. E tudo isso pela confortável
posição da adesão à crença cega e ignorante, exumadora de toda e qualquer
culpa, já que aquele quem tem fé confia cegamente numa hierarquia artificial e
imposta, transferindo a outrem o destino de sua existência, situação mais
cômoda e inerte do que daqueles que aderem ao campo da constatação e da
verificação do possível e do verossímil, ferramentas mais apropriadas para quem
busca a posição de sujeito protagonista nas difíceis situações que exigem a
tomada de decisões e opções que a vida nos coloca e reinvidica no dia a dia. Um
ser autônomo e responsável por seu destino possível e seus limites naturais.
Assim,
estamos vagando sem direção, pois, perdemos a bússola da vida. E, isso está nos
descaracterizando e nos despersonalizando de nossa verdadeira razão de ser.
Transformamos-nos em seres carentes, vítimas desse terrível carcinoma emocional,
principal causador de todos os demais carcinomas, resultado dessa grande apoplexia
psíquica que acabou nos desvalendo e nos esgotando completamente. Tal carência
absoluta que infesta toda a humanidade resulta na incapacidade destes de melhor
empregar todas as potencialidades que o ser humano traz em sua constituição. Infelizmente,
utilizamos no máximo 10% de toda nossa potencialidade, algo muito aquém e que
comprova a incapacidade e o limite que o condutor da máquina humana apresenta
em seu manejo. E toda essa tragédia, toda essa catástrofe, vem acontecendo
somente dentro de nossas cabeças infantis e tolas, já que no universo concreto
nada aconteceu de diferente, nada mudou: ele continua existindo da mesma forma
que antes, com a mesma eficácia e eficiência, pois na prática só a humanidade
parou de interagir com o todo, pelo menos mentalmente. Estagnados,
desorientados e órfãos continuamos nesse jogo de cartas marcadas onde de nada
adianta correr da aposta ou pagar para ver, pois o jogo já foi decidido há
muito tempo, a “banca” já tem um dono e o que nos resta é representar aquilo
que nos cabe e para o qual fomos criados, sem nenhuma expectativa a não ser
jogar as cartas que nos foram descartadas e enviadas pelo “croupie divino.”.
É
imprescindível que voltemos às nossas verdadeiras origens, pelo qual e para a qual
fomos concebidos, pois é no princípio que encontramos a verdadeira razão de ser
das coisas; e isso só será possível se resgatarmos em nossa memória o momento
em que nos desviamos de nossas raízes. É fundamental que reencontremos esse
“elo perdido”, o exato instante que nos desligamos do todo e passamos a nos autointitular
uma espécie muito mais adiantada e importante do que tudo e todos em nosso
entorno, o filho primogênito e predileto do Pai carente e injusto, que mesmo onisciente,
onipresente e onipotente, precisou inventar um ente que fosse seu reflexo e
herdeiro, o ponto fraco de sua criatura, mesmo sendo ELE Perfeito, completo e
realizado.
Tal delírio é de fácil diagnostização, já que ele
é continuamente utilizado por todos aqueles ególatras desvairados que se sentem
inseguros e pouco convencidos de suas convicções. Só vocifera aquele ser que
está com medo de alguma coisa, por não entender o que está ocorrendo ou que poderá
vir a acontecer no próximo instante. É da ignorância e da indolência que advém
os maiores abusos e violências. Só os temerosos e acovardados agridem e
machucam por ignorância, já que não entendem o porquê e o como de tal situação.
Quem detém o mínimo de noção da realidade, quem vive sem expectativas e ilusões
estapafúrdias, aqueles que entendem o funcionamento do todo e vislumbra suas reais
possibilidades enquanto parte do todo, vive harmonicamente e de maneira natural
e pacífica.
Essa é apenas uma parte introdutória do que
nosso blog procurará debater e apresentar, que é o desvelar de nossa condição
real, presente, sem delírios, fantasias, sonhos ou pesadelos a não ser com
aquilo que realmente nos deparamos no dia-a-dia de nossa existência.
Continuaremos esse tópico nas próximas postagens. Espero que seja útil e de
alguma valia e que abra um cenário para discussões e debates.
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