Filosofia do possível

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quarta-feira, 1 de abril de 2015

O MITO DE FRANKENSTEIN - PARTE VI - ESPELHO, ESPELHO MEU...

O MITO DE FRANKENSTEIN
PARTE IV
“ESPELHO, ESPELHO MEU...”


            Para compreendermos qual a ideia da produção e massificação desses mitos criacionais, precisamos compreender uma questão central, que se refere principalmente a qual o verdadeiro motivo que levou o Criador a expulsar ou a abandonar sua criação, seu próprio “Filho”? O que causou tamanha ojeriza e repulsa que fez com que o “Pai” renegasse sua obra, ao ponto de abandonar sua cria à própria sorte, ao “Deus dará”?
            Notem que esse é sempre o ápice desse tipo de alegoria, algo extremamente cruel, injusto, covarde e de certa forma frívolo por parte de um ser que está situado num nível muito acima dos demais seres. É uma situação tão surpreendente e inverossímil que causa sempre espanto ao leitor incauto, graças a condição non sense e inesperada, que a trama passa a percorrer.  Uma posição imperdoável para o patamar que o Criador ocupa na cadeia hierárquica de ser divinizado ou genial.
            Sem dúvida nenhuma, tal postura irresponsável ocorre por um único motivo: o próprio reflexo. Tanto o Criador no Pecado Original, como Dr. Frankenstein no conto homônimo, se assustam, se horrorizam com o que criaram. E tal insatisfação acontece de forma tão irrefreável que o Criador não consegue nem mesmo disfarçar seu desconforto em relação àquilo que ele gerou. A grande causadora de tamanho asco se deve unicamente ao fato dessas criaturas refletirem através de sua forma de ser, de se comportar, de sentir e de agir, o próprio Criador. Essas Criaturas espelham de forma fidedigna aqueles que os geraram; são cópias autênticas de seu progenitor. Não é a toa que o próprio Antigo Testamento afirma ser o “homem  imagem e semelhança do Pai”,  retrato do sujeito que o originou.


Isso também elucida certas atitudes do Deus do Gênesis e do Dr. Frankenstein que sempre relutaram em dizimar suas crias, mesmo com todos os erros realizados por estas em relação a desobediência no caso do Mito do Pecado Original, ou do assassinato da esposa do Dr. Frankenstein, no Mito de Mary Shelley. Esse relevar, esse “passar a mão na cabeça” do Criador em relação à criatura representa a incapacidade deste em cometer um suicídio, pois ao aniquilar sua cria, ele estaria, indiretamente, se auto-dizimando.
Por fim, é relevante analisar, afinal, o que os assustaram a ponto de renegarem a patente de sua invenção. O que eles viram que os deixaram em uma situação de tamanho descontrole, levando-os à expulsarem, à abandonarem sua cria logo após seu surgimento?
Eles se assustaram com eles próprios. Através de Adão e Eva, por um lado, e o Monstro de Frankenstein, de outro, seus respectivos criadores tomaram um contato direto, aberto e franco consigo mesmos. Eles se viram através de suas crias; e, como ficou bem claro, abominaram e execraram aquilo que viram. Isso porque constataram de maneira muito áspera e crua ângulos que até então nunca tinham observado em si próprio. Notaram detalhes sobre eles mesmos que nunca haviam percebido e isso causou neles uma dor muito grande pois através de suas crias eles atentaram para quem eles realmente eram de forma mais completa e ampla. Então, toda aquela impressão que tinham de que eram perfeitos, divinos e geniais, enfim, toda essa idealização esquizofrênica, fruto de uma imaginação delirante e enfermiça não passavam de meras quimeras, devaneios e sonhos, fruto de uma mente doentia e aterrorizada pela não aceitação de seus limites, fragilidades, pequenez e mortalidade.


Mas, o que estes seres tão à frente dos demais esperavam de seu fruto? Será que eles não tinham conhecimento que tudo que se cria espelha seu artífice. Que tudo que existe não passa de um eterno holograma geracional, pois estamos fadados a só podermos criar algo semelhante a nós. Que tudo o que fazemos, produzimos ou criamos são reflexos diretos e proporcionais de nós mesmos, independentemente de nossa vontade ou desejo. Basta olhar para nossos filhos, para nossos textos, comportamentos, expressões, reações, em nosso trabalho, enfim, em tudo o que atuamos, agimos e criamos sempre os frutos foram, são e serão nossos revérberos.
Esses seres divinizados e muito acima da natureza concreta são, na verdade, seres humanos fantasiados que têm como principal objetivo, fazer com que os demais  seres humanos acreditem nesses mitos e passem a trabalhar para estes em troca da vã promessa que um dia estes também conseguirão atingir esse ápice de divinização atemporal. Assim criam uma roda de crenças absurdas em que devotarão toda sua existência sem nunca encontrar nada disso. Inocentes úteis, vítimas de mentes mal-intencionadas, que buscam a manutenção desse status privilegiado de uma pequena elite, detentora de 90% das riquezas.


E aqui vemos onde está o verdadeiro milagre “divino” dessa sociedade cristã, ou seja, graças à esse tipo de crendices insensatas, entronizada no populacho desde de seu nascimento, se consegue transformar a maioria em lacaios escravizados, animais irracionalizados, que só vivem para servir e eternizar esse status quo, onde eles próprios são os marginalizados. Prova da esquizofrenização do povo, que se autoflagela como se não houvesse outra alternativa a não ser sofrer, adoecer, tolerar e se resignar nessa vida, apostando todas as suas fichas num pós-morte que nunca ninguém vislumbrou de maneira verdadeira e real. Aposta incerta e típica de quem não sabe e não entende o jogo da vida.
            Aqui encerramos nossa análise acerca do Mito de Frankenstein. Nas próximas postagens iremos abordar o tema do gênero feminino dentro dessas abordagens criacionistas. Falaremos acerca do papel de Eva dentro do Mito do Pecado Original, dos contos de Branca de Neve, Cinderela, Alice, etc. Dentro dessa mesma perspectiva das análises até aqui, buscando os verdadeiros motivos por trás dessas inocentes e pueris estórias de contos de fadas.



Abraços cordiais

Fernando Manarim   
           

            

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