Filosofia do possível

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quinta-feira, 16 de abril de 2015

EVA E A SERPENTE: ONDE TUDO COMEÇOU...- PARTE I

EVA E A SERPENTE: ONDE TUDO COMEÇOU...
PARTE I

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            Como já foi aludido em postagens anteriores, o Mito do Pecado Original oculta por trás de sua “verdade divina”, interesses pessoais que tem como objetivo principal o enquadramento da sociedade sobre determinados ditames sócio-morais.

            É através deste mito que passamos a desenvolver sentimentos preconceituosos e pré-julgadores de valores dúbios e duvidosos que nos cinde sob categorias imaginárias e enganosas com o intuito de nos fazer acreditar que determinada raça é superior às demais por causa de um pseudo-critério divino, segundo determinado autor, sem nenhum tipo de prova ou constatação concreta a não ser a sua “palavra sagrada”, como se isso fosse a coisa mais natural e justa do mundo. Algo bizarro e doentio, fruto de mentes caluniosas, perversas e manipuladoras, que buscam privilégios e vantagens eternizantes em prejuízo da grande maioria da humanidade.

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            Numa dessas premissas subliminares que encontramos neste Mito destacamos a afirmação de que o gênero feminino é uma espécie de ser humano de segunda categoria, de nível inferior, um tipo de personagem coadjuvante, que por ser essa sua condição, por consequência, se torna invejoso, vingativo e ardiloso, exercendo, na maioria das vezes, um efeito nocivo para com o outro gênero humano, herdeiro direto e único do “Pai Criador”.
            Isso pode ser constatado em diversas passagens do mito, onde tais considerações são apresentadas de maneira clara e direta, sem nenhum tipo de reserva ou constrangimento por parte de seu autor.
            Por que a mulher, desde a sua criação, é descrita e caracterizada sobre tamanha discriminação preconceituosa? Quais os motivos para um rebaixamento tão abissal só por causa de um gênero? O que gerou tanto ódio por parte do escritor de tal mito, para retratar o sexo feminino de maneira tão aviltante e maledicente, amaldiçoando seu destino, desde então?
            Sabemos que nada acontece por acaso e que tudo que é recontado de geração à geração traz em seu bojo segundas intenções. Eis o que ocorre com esse Mito da Criação, um texto recheado de segundas intenções, sendo que uma das mais importantes é a de discriminar e de desvalorizar o gênero feminino.

            O primeiro ponto que iremos destacar acerca dessa desvalorização da mulher no Mito é sobre a diferenciação no tratamento, por parte do autor, que é dispensada para cada um dos gêneros humanos. O gênero masculino, representado na trama pelo personagem de Adão, é concebido como fruto direto da vontade divina do Criador. Já Eva, representando o personagem do gênero feminino, deriva de uma costela de Adão, ou seja, é uma cria da criatura, um ser de segunda linha. Assim, observamos que uma das intenções que o autor do Gênesis já deixa explícita no texto é a condição e o patamar de cada gênero na hierarquia criada pelo “Pai Todo-Poderoso”.  Existe uma grande diferença entre o primogênito e as demais crias. Isso é uma tradição até hoje.  O primogênito sempre tem regalias que os demais filhos não têm. Essa tradição, com certeza, é um reflexo direto desse Mito, que é, sem dúvida nenhuma, um dos maiores recursos doutrinários na formação e no enquadramento do mundo ocidental.
            Logo, sendo a mulher fruto de uma parte insignificante de Adão, ela nos é caracterizada como um ser inferior, menor. Aqui se inicia uma campanha de diminuição descriminalizante do gênero feminino na história judaico-cristã ocidental.

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            Em segundo lugar, por Eva ter sido gerada do homem, ela acaba por ser colocada numa posição hierárquica subalterna de servidão, de submissão e de uma eterna dívida de gratidão para com o gênero masculino, responsável pela sua criação. Por isso, o gênero feminino deve sempre se postar resignada, obediente e respeitosamente para com aquele que lhe deu a oportunidade da vida.
            Essa maneira com que o mito é narrado gera, novamente, um juízo de inferiorização e discriminação em relação ao gênero feminino, por estar sempre com um sentimento de dívida para com o sexo masculino, já que a forma como é contada a trama, sempre deixa a mulher numa situação passiva, de inercia, postura típica de quem não faz parte da realeza, que não é de sangue-azul, de súdito submisso e de vassalagem.
            Além disso, toda vez que Deus entra em contato com a raça humana no Paraíso, ele sempre se dirige única e exclusivamente à Adão. Esse tratamento diferenciado escancara, no Mito, quem é o filho pródigo, quem é o privilegiado, o preferido, algo que vai refletir em toda nossa estrutura social na maneira como os gêneros masculino e feminino serão organizados e referendados pela civilização ocidental pós-romana antiga.

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            É sob essa égide que fomos condicionados, acostumados e doutrinados, um sustentáculo preconceituoso, injusto e mentiroso, onde a diferença sexual gera um padrão para classificarmos e identificarmos quem manda e quem obedece, quem manipula e quem é explorado, quem pode regozijar e agradecer e quem deve sofrer, se resignar e se prostrar por ser o grande algoz de toda a humanidade.
            Eis a mensagem que esse Mito do Pecado Original nos transmite, um mundo estruturado sobre preconceitos, discriminações, abusos e injustiças, fruto de uma imaginação doentia e covarde de homens que por alguma razão vil e cruel, decidiu como, onde e porque a sociedade deveria se organizar em todos os sentidos.

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            Na próxima postagem continuaremos essa abordagem acerca da vitimização do feminino no Mito da Criação, onde trataremos da parte em que o fruto proibido é mordido e a Queda ocorre, sempre focando nossa análise sobre a questão do gênero feminino e masculino.

Abraços


Fernando Manarim

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