Filosofia do possível

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sábado, 2 de maio de 2015

EVA E A SERPENTE: ONDE TUDO COMEÇOU... - PARTE II

EVA E A SERPENTE: ONDE TUDO COMEÇOU...
PARTE II

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            Como vimos na parte I, o gênero feminino foi classificado como espécie de segunda categoria e tal caracterização foi esboçada no Mito do Pecado Original de maneira inflexível e implacável, com um único intuito de diminuir e ridicularizá-lo perante a organização da estrutura social.
            Nesta segunda parte, exibiremos mais componentes da alegoria, onde tal depreciação e aviltamento continuarão a ser esboçados por parte dos autores do Gênesis Bíblico. Algo repetido incansável e insistentemente, até que tal falácia conquistasse o status de verdade para todos.

A ETERNA ACOMPANHANTE

            Dentro do andamento da trama, desde de sua aparição, Eva era uma personagem suplementar, coadjuvante, uma acompanhante criada para assistir e ajudar a findar a situação solitária de Adão, único representante da raça humana, até aquele instante. Tanto isso é verdade que, Eva sempre aparecia ao lado de Adão, sempre em silêncio, sempre um personagem figurativo, quase um elemento paisagístico do Éden.
Essa coadjuvância feminina, acabou se repetindo continuamente até os dias atuais e, sem dúvida, tal condição, foi resultado da mensagem inculcada por essa “alegoria sagrada”, onde só um gênero é alçado à condição de herdeiro direto do Todo-Poderoso.

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            A mulher continua desempenhando esse papel de acompanhante, de acólito, e isso pode ser facilmente evidenciado nas normas sociais, nas situações mais corriqueiras e banais como, por exemplo, quando um homem e uma mulher se casam; a partir do enlace, o sobrenome do marido é incorporado ao nome da mulher, passando a ser utilizado como principal. Mesmo que legalmente já não seja obrigatório tal nomeação familiar, na maioria dos casos continua vigorando essa “tradição”, pois para a mulher geralmente, é uma questão de status carregar o nome do marido, por comprovar que ela é casada, realização máxima da mulher desde o aparecimento de Eva no Mito do Pecado Original, na sociedade ocidental-cristã.
Outro exemplo da supremacia masculina, pode ser constatado quando numa cerimônia um casal é anunciado; normalmente o casal é apresentado pelo sobrenome do marido, nunca o contrário. Mais uma confirmação da preponderância de um gênero sobre o outro.
            As próprias brincadeiras de crianças refletem essa sujeição do feminino em função do masculino. Muitas das brincadeiras de meninas são de conotação doméstica, onde o principal objetivo do gênero feminino é de cuidar, de servir, de auxiliar e de assistir o homem. Dificilmente você verá uma menina brincando com entretenimentos diferentes desse tipo de conotação. Sempre brincando de cozinhar, de cuidar de boneca, de lavar a roupinha, etc. Deixando claro qual o papel determinado para o gênero feminino representar na sociedade.

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Poderíamos ficar aqui apresentando muito mais exemplos de tal soberania do sexo masculino, pois toda nossa estruturação social está embasada sobre essa discriminação, fruto da doutrinação e da reiteração constante e ininterrupta do Mito do Pecado Original, chancelado com o selo de garantia da Bíblia Sagrada. E, se por acaso, alguma mulher resolver escolher seguir por outro caminho que não o de servir e acompanhar o homem, esta sofrerá enormes retaliações e desagravos por parte da sociedade em geral, pois ninguém pode se rebelar contra os “desígnios de Deus”. Senão, arderá no fogo do inferno, como se a situação feminina já não fosse um inferno no Ocidente.

NASCE A TENTAÇÃO

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            É importante lembrar que tudo que existia no Paraíso Edênico era puro e perfeito, não existia nenhum tipo de maldade, de segundas intenções, de qualquer tipo de malícia, sem diferenças, apenas a inocência, a singeleza e a simplicidade. Tudo horizontal, sem privilégios, vantagens ou qualquer tipo de regalias entre os seres.
            Mas, repentinamente, Deus anuncia a Adão que, por alguma razão, existia uma árvore no Paraíso, cujo fruto não poderia ser mordido de modo nenhum, sem nenhum tipo de explicação do porquê de tal refreamento. Afirmou que se por acaso alguém mordesse desse fruto passaria por punições terríveis, por sofrimentos colossais e que seria, inclusive expulsos do Paraíso divino.
            Num primeiro momento, tal ordem foi aceita sem nenhum tipo de interjeição, mas, depois, tal restrição gerou uma sensação nova para Adão e Eva, um sentimento desconhecido, estranho, algo que não os deixavam mais em paz, nasceu a curiosidade. E com ela foi despertada a tentação, sentimento fatídico que mudará radicalmente todo o destino da humanidade.     

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            É importante frisar que, o verdadeiro culpado de toda essa catástrofe não foi nem Adão, nem Eva e nem a Serpente, mas sim o Criador que foi quem, indiretamente, acabou por despertar sentimentos que não existiam até aquele momento. Todos concordam que quando se proibi alguma coisa, algo sem explicar o porquê de tal reprimenda, a curiosidade é despertada e a tentação de transgredir a ordem se torna algo a ser desejado de maneira insuportável.
Sabemos que, muitas vezes, tal estratégia é empregada quando se quer que tal situação de insubordinação seja realizada à revelia. E, é exatamente isso que podemos verificar no Mito do Pecado Original, pois era esse o destino que o Criador pretendia para as pobres criaturas humanas.
O fato de o Criador proibir algo, fez com que tal objeto se destacasse no meio de tanto coisa pura e horizontal, e tal sobre-elevação acabou com o equilíbrio, a harmonia e a proporcionalidade que existia até então. Quem acabou com o Paraíso divino não foi a insubordinação de Adão e Eva, mas, foi quando se instaurou a proibição de algo, pois assim fiou atestado que o Paraíso, na realidade, nunca existiu, que era uma ilusão inculcada em Adão e Eva, pois não há perfeição e plenitude onde existam proibições, restrições e coibições, já que tais fatos mostram limites onde não deveria existir nenhum tipo de barreiras ou qualquer tipo de demarcações.
Logo, o verdadeiro carrasco de toda essa história de pecado original, é nada mais nada menos, que o único personagem que detinha o controle sobre todo o enredo, Deus, o Criador de tudo e todos. Foi ele o responsável por tudo o que aconteceu no Paraíso. Dessa maneira, a sedução que Eva sofreu da serpente e a própria mordida dada na maça por Eva, nada mais são do que decorrências do desejo do Criador que tal ato ocorresse. A serpente, Eva e Adão foram apenas joguetes nas mãos de Deus. Massa de manobra para forjar todo um enredo que resultasse naquilo que nós conhecemos tão bem, que é de carregarmos a culpa eterna por algo que na verdade fomos obrigados a fazer.

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Mas, então,  por que toda a responsabilidade foi colocada sobre os ombros de Eva e da Serpente? Quais são os motivos para tamanha falácia para com seres inocentes e sem poder? Por que o gênero feminino virou o grande “bode expiatório” de toda essa história?
Eis o conteúdo de nossa próxima abordagem acerca da Vitimização feminina na história cristã-ocidental
Até a próxima

Fernando Manarim

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