O MITO DO PECADO ORIGINAL
“O GÊNESIS DA CONVALESCÊNCIA DA HUMANIDADE”
PARTE I
Esse mito representa um marco decisivo
na história do ser humano. Simboliza uma mudança radical, bruta e abrupta nos
rumos da humanidade e de nossa relação com a criação. Segundo nos é relatado, a
partir desse divisor, fomos exilados, torturados e extirpados de nossa condição
original e existencial em nossa relação com o todo. Algo injusto, cruel,
doloroso e inexplicável vindo de um “Pai” tão bondoso, justo e perfeito, como
nos é caracterizado a figura do Criador. Mesmo sendo reflexos, nos impusemos
como se deixássemos de ser criaturas, como se ocupássemos o mesmo patamar do
criador. Algo inverossímil e totalmente absurdo, dentro do padrão e do enredo do
mito.
Mas
afinal, o que aconteceu para que tal fato tão violento e radical ocorresse? Por
que foi permitido que tal “pecado” acontecesse num mundo tão perfeito e justo?
Como explicar que uma pequena fração de seres tão insignes, pudesse ocasionar
tamanha desordem e abuso contra as ordens explícitas do Todo-Poderoso?
Esses questionamentos naturais nunca
foram respondidos de forma convincente, pois sempre que ocorria tais
indagações, os “enviados de Deus” apelavam para uma frase muito usada por estes
doutrinadores: “Eis o mistério da fé”. Recurso oportunista para aqueles que não
têm nenhum tipo de resposta para oferecer. Sabemos que só se emprega a fé
quando não existe comprovação possível. Em outras palavras, fé é sinônimo de
ignorância, algo próprio de seres que se colocam em patamares inferiores e de
dependência em relação aos seus medos, angustias e aflições. Comportamento
típico de quem está mais voltado aos instintos que à razão.
Por outro lado, gerou-se certa
independência e autonomia, até então inédita entre as partes componentes desse
todo; isto nos transformou em algo singular e inaudito até então, quase uma
aberração para os padrões da criação daquele momento. Segundo a lenda, tal
expulsão edênica acabou por nos pinçar, nos destacar e nos elevar em comparação
com as demais partes inclusas. Nasce uma hierarquia e com ela graus de
diferenciação até o momento inexistentes e improváveis dentro do plano
estabelecido.Tudo mudou e transfigurou-se para sempre a partir daquele
instante, ganhando um colorido novo e inusitado. Pelo menos foi essa a estória
que nos foi contada e ensinada desde então.
Se observarmos esta história de
maneira mais atenta e distanciada como nos foi passada e interpretada fica
claro que é mal construída e extremamente tendenciosa e manipuladora. Que
tamanha aberração literária nos foi relatada fundamentalmente com o intuito de
moralizar e escravizar as pessoas a acatar e obedecer a determinados comandos e
comandantes. Um dos objetivos principais era de nos tirar da realidade, do
presente e nos transformar em “zumbis” que passariam a viver adormecido e
sempre num estado onírico e utópico, sempre se relacionando ou com o passado ou
com o futuro, nunca tendo a verdadeira dimensão do agora.
Aqui,
gostaria de propor alguns questionamentos polêmicos e provocativos em relação a
essa interpretação herdada do mito. Interrogações com o objetivo de abrir novas
possibilidades de análise acerca do entendimento imposto; isso porque se
analisarmos essa história como nos foi passada e interpretada fica muito claro
que ela tinha como principal meta atemorizar e criar um sentimento de culpa nos
“fiéis”, característica básica de todos àqueles que são religiosos, ou como
eles gostam de se auto-alcunhar, “tementes a Deus”.
Primeiramente, será que isso aconteceu
da maneira como nos é interpretado oficialmente ou esse mito não passa de fruto
da imaginação humana, inculcado e condicionado para obtenção do controle e
hegemônico de uma elite sobre a maioria dos homens?
Será que tal simbolização é real ou
efeito de algum trauma mal resolvido, ocorrido a partir daquele momento,
causando uma espécie de “esquizofrenia coletiva continuada” que nos anestesiou,
hipnotizou e que nos acompanha até os dias atuais?
Será esse mito uma armadilha criada
pelo ego humano para nos elevar a um patamar enganoso que nos ilude e nos
impinge uma superioridade ilusória, desviando-nos de nossa real condição?
Ou, será que nos alijaram
intencionalmente da verdadeira interpretação e este mito é, antes, uma chave
que nos coloca de volta à situação que vivíamos antes desse acontecimento?
Se concordarmos com todos os
questionamentos acima levantados, por que, para que e com quais finalidades tal
interpretação nos foi impostada e condicionada em nossas mentes?
Esses são alguns pontos fundamentais
que merecem ser abordados com todo cuidado por serem responsáveis pela
configuração de como vemos, sentimos e existimos no todo. Proponho uma visão
alternativa e diferente da ótica oficial. Uma abordagem sob um novo prisma, que
poderá alterar completamente nossa maneira de ser e compreender o mundo. Um
retorno às condições de vida antes da mordida na maçã. Um mundo, talvez, sem tanto
rancores, vaidades e prepotências. Apenas partes iguais de um todo que parecia
ser harmônico, pleno e completo, como éramos antes de toda esse pesadelo
inventado para nos desviar de nossa verdadeira natureza humana.
Continuaremos esse tema nas próximas
postagens, voltando a lembrar que quaisquer indagações ou comentários acerca do
texto serão sempre apreciados com seriedade por parte do autor.
Grato
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