Filosofia do possível

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quinta-feira, 19 de março de 2015

O MITO DE FRANKENSTEIN - PARTE II


O MITO DE FRANKENSTEIN

PARTE II
 
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            Como foi salientado na postagem anterior, o mito de Frankenstein tem como tema principal a criação da vida, tema similar ao mito do Pecado Original, anteriormente analisado. E, é exatamente por isso que esse mito foi escolhido, pois nosso objetivo é demonstrar que não só esses dois mitos, como todos os mitos que tem como foco principal o tema da criação, são similares, já que dentro de seu momento histórico, narram a mesma trama e querem comunicar o mesmo tipo de moral da estória, o mesmo “modelo a ser seguido” peremptoriamente.  Nossa proposta é apresentar as similaridades de conteúdos e de objetivos que tanto o Mito do Pecado Original como o Mito de Frankenstein, trazem em seu bojo. E em um segundo momento, podermos tirar conclusões através do como, do por que e onde eles querem chegar através de tais artimanhas astuciosas, nos ludibriando e nos levando aos erros sem nunca nos deixar enxergar o que se oculta desses véus tão cheios de segundas intenções.
 
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Começaremos analisando a questão da criação em si. Como foi gerado o “Monstro”, no mito escrito por Mary Shelley? A criatura nasceu da mente de um cientista prepotente e obstinado, que acreditava ser capaz de realizar qualquer coisa, até mesmo criar vida, não qualquer vida, mas, especialmente de seres evoluídos, semelhantes à raça humana, ou seja, semelhantes ao “Pai”. Imagem e semelhança com aquele Deus do Gênesis, prepotente, arrogante e acima de tudo e de todos. Tanto o Dr. Frankenstein quanto o Deus Criador da Bíblia, apresentam, dentro de suas particularidades, a mesma característica de personalidade, já que representam o mesmo personagem dentro dessa narrativa criacional. São poderosos, inteligentes, obstinados; como afirmam na bíblia, seres “oniscientes, onipotentes e onipresentes”, qualidades inventadas e impossíveis de se constatar por qualquer ser vivo que habite nosso planeta. Aqui a intenção essencial é criar uma aura de perfeição e infinitude que os absolve e os coloca acima de qualquer julgamento, acima do bem e do mal, seres que ultrapassaram o estágio humano, daí a coroa divinatória que lhes cobre a cabeça. Pelo menos essa é a primeira intenção dos autores do Gênesis e de Frankenstein. Por serem criadores não podem ser avaliados pelas criaturas e com isso ganham status de uma soberania perfeita, única e eterna, podendo até “escrever certo por linhas tortas”, frase dogmática de um descalabro irracional e ilógico que chega a ferir mentes com um mínimo de inteligência autonomia.
 
 

Uma segunda característica a ser salientada é que para criar a vida, ambos empregaram materiais similares, de substâncias amorfas e de feições diversas ao produto gerado. Frankenstein se utilizou da mistura de diversos cadáveres para poder gerar seu “monstro”; narrativa semelhante ao que o Gênesis nos contou quando afirmou que Deus criou vida através de matéria inócua e sem vida que ele encontrou no Universo. Tanto um quanto outro são artífices criativos que podem transformar coisa morta em algo novo e vivo, barro em vida, o nada em tudo. De novo, a supervalorização do personagem do Criador, pois lhe dão um caráter e uma importância descomunal de infalibilidade e potencialidade infinitas e mágicas, como se só eles pudessem atingir tal nível, ou como se isso fosse possível a um ser naquele momento que tais “milagres” foram realizados . Tudo isso no campo da imaginação e do delírio de pessoas mal intencionadas, com finalidades de dominação e controle da maioria, inventando estórias com o intuito de enquadra-las através dos medos, frustrações, angustias e de sua ignorância. Sempre gerando culpas, dívidas morais, insatisfações; negações e agravando o quadro das pessoas até que entrem num quadro de esquizofrenia, fazendo com que essa maioria amedrontada deixe de ver e de viver a realidade, o presente possível, o cotidiano com plenitude e sem nenhum tipo de disformidade imaginária para lhe desviar a atenção de cada instante. Sempre acorrentados ao passado ou com medo do futuro, fruto de um adestramento compulsivo e irreal. Resultado de culpas inatas, próprias dos seres humanos, sempre, como numa prosa kafkiana, réus de um crime já sentenciado e sem nenhuma chance de defesa. Culpados de serem como são, vítimas de um crime que eles não cometeram, por não serem criadores mas antes criaturas, resultados ao invés de produtos, restos de uma equação que nunca bate, que nunca zera e que nunca se resolverá.

            Outro fator a ser destacado é que o Dr. Frankenstein para dar vida ao Monstro, se utilizou de energia elétrica gerada através de enguias. De novo, um símile similar a passagem do antigo testamento que diz que através da Luz Deus gerou vida no Universo. Novamente, um ser que domina e emprega ao bel-prazer os materiais disponíveis, um artífice perfeito e criativo que sujeita a natureza a seus caprichos e desejos. O poder infinito de quem tudo pode e tudo vê, falácias e mais falácias que somente mentes doentes e distantes da realidade podem se deixar envolver. Só quem usa fé, quem emprega a crença como principal ferramenta de vida, acaba prisioneiro de sua ignorância. E só os ignorantes podem ser manipulados e dirigidos facilmente, já que não conseguem entender por si mesmos o que realmente se passa à sua frente. São cegos com visão, porque simplesmente se negaram a enxergar. Por costume e por comodidade, abdicaram de pensar por si mesmos, ficando reféns de quem lhes cobrem o sentido das coisas, condição parecida com o que Hegel afirmava ao dizer que o escravo aceitava tal condição por si mesmo, ou seja, ele era escravo por escolha e não apenas por uma imposição violenta de quem o escravizara.
 
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            Eis o que representam os mitos da criação: tramas inventadas por mentes mal intencionadas, que sabem como controlar e manipular a maioria do populacho, inocente, temeroso e ignorante. Tudo isso com o objetivo de tirar vantagem e se eternizarem no ápice da sociedade.

            Continuaremos a análise do Mito de Frankenstein na próxima postagem.

Felicidade a todos!

 

Fernando Manarim

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